domingo, 18 de novembro de 2007

Não foi como ela pensou que seria


E NÃO TERIA SIDO DESSA FORMA SE ELA SOUBESSE QUE SERIA ASSIM.


Sempre acreditou que morreria aos 24. Mas se assustava com a idéia, cada vez que pensava na vida improdutiva que tinha. Nunca se lembrariam dela, ou de algum feito importante que por ventura tivesse constituído. Não chorariam sua morte mais que alguns dias. Ninguém tentaria suicídio por sua causa. Nenhum de seus amigos cantaria sua música preferida no seu funeral. Suas flores ficariam sempre murchas. Seu túmulo estaria sempre empoeirado. Sua vida não seria mais que vagas lembranças de uma ou outra pessoa, quando vissem uma foto, ou escutassem uma de suas gírias favoritas. Seu violão nunca mais seria tocado. Seus textos nunca mais seriam lidos. Morreria sensivelmente, se é que existe morrer dessa forma. Morreria como as pessoas que aproveitam suas vidas da forma mais ineficaz morrem: de câncer, aids ou cirrose. Morreria sozinha, enfim. E suas idéias e esperanças morreriam com ela, pois não tinha apóstolos, ou alunos, que pudessem continuar seus planos. Não havia quem pudesse transgredir suas revelações, suas descobertas e seus desejos mais íntimos, para que o mundo ficasse um dia sabendo o quanto seu íntimo era poético e sábio.
Morreu aos 22, em um acidente trágico. Voltava da sua primeira tarde de autógrafos. Publicou um livro de sucesso. Seu velório estava cheio. Pessoas saindo de si, gritando seu nome aos quatro ventos. Enterraram-na vestida de roxo, o vestido preferido. O caixão, pesado de flores, foi coberto ao som de “A Mulher”, de Caetano Veloso. Um amigo tocou, e outros tantos cantaram. Um dos diversos amantes que teve tentou suicídio. Uma amiga batizou a filha com seu nome, anos depois. Foi lembrada nas rodas de violão, nos esquemas de sexta à noite. Foi lembrada nas revistas de literatura e nas publicações artísticas. Sua sobrinha tornou-se uma grande escritora, e escreveu um livro sobre sua vida. Ela entrou para a história.

Se soubesse disso ela não teria fumado tanto, bebido tanto, aproveitado a vida além dos riscos da morte.
Se não tivesse aproveitado a vida além dos riscos da morte não teria entrado para a história.

10 comentários:

  1. pelo menos morreu tornando-se inspiração para as pessoas...de qualquer jeito a vida acaba, ficar na memoria das pessoas, saber que sentem sua falta...deve ser algo inimaginavélv até mesmo para uma mera mente humana, ser lembrado por algo que fez...algo inesquecivel...nem sei mais que que eu to falando mais me fez refletir varias coisas aqui, mó brisa

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  2. uhll...
    esse texto ficou legal...

    Momentos de reflexão sobre o sentido da vida ou algo do tipo...

    A vida é realmente muito estranha né?
    Completamente paradoxal...
    Mas são riscos... e riscos são assim... viver é um risco constante, só nos resta saber aproveitar...
    E saber viver...

    "Entrar para a história ou não entrar para a história, eis a questão!"

    Bjo Fulô

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  3. e aqui estou novamente visitando uma blogueira ativa... hehehe
    de qualquer forma, sua visita foi até um incentivo, postei mais coisas =)
    Quanto ao post, adorei...até refleti um pouco sobre a minha forma de vida. Achei a sua escrita bastante sutil.
    Até mais...
    Beijos.

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  4. heey...
    dei uma favoritada em seu blog, ok?
    Acho que na vida quese todos nós agimos como raposa mas, vez ou outra aparece um cachorrinho por aí... hehe
    Quanto ao médico, acho que eu não seria tão fria assim... Por isso quero ter muitos filhos! haha
    haja ânimo!
    até!

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  5. "Se soubesse disso ela não teria fumado tanto, bebido tanto, aproveitado a vida além dos riscos da morte.
    Se não tivesse aproveitado a vida além dos riscos da morte não teria entrado para a história."

    Li essa parte 4 vezes. Eu poderia ler mais, mas acho que ia conseguir cada vez menos de cada leitura...! Mto bom!
    Especialmente da parte seca e simples onde ela morre aos 22, achando q morreria aos 24... Mto legal!

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  6. Nossa! Dessa vez você se superou. Pode mandar esse para o jornal! Uhu! Me emocionei profundamente. Talvez até por me identificar com a personagem. Essa crônica ficou 10. Coisas tristes sempre são bonitas.

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  7. coisa estranha esse negocio de vida e morte.
    eu particulamente n me vejo morto, n vejo meu funeral ou coisa do tipo. mais tb n me vejo velho numa cadeira de balanço...

    a ideia de um vida longa da preguiça, por outro lado, a ideia de uma vida curta é desperdicio.

    n acredito na ideia "carpe diem", mais sei de uma coisa:

    sempre quem bebe é mais legal...
    hehehehehehhehehe...

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  8. Se eu te disser que ainda estou arrepiado mesmo já tendo passados alguns minuitos que li o texto.!

    Além de criativa é inteligente.

    Muito bom mesmo.

    Não sei se quero entrar pra história tbm... mas só tenho medo de ser esquecido ao lado de flroes murchas.

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  9. kaiquesanches@yahoo.com.br6 de dezembro de 2007 às 18:44

    noto uma clara referencia a Fernado Pessoa....estou enganado?
    Kaique Sanches

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  10. Uma vez sonhei q morria com 33... [?] oO
    ...acho q era meu inconciente dizendo, viva! Aproveite melhor a vida!!!
    ...sei lá...

    me lembrei dessa:
    "Aquele que não está ocupado nascendo, está ocupado morrendo."
    Bob Dylan

    Adorei o texto! =)

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