segunda-feira, 25 de agosto de 2008

no brusco arrependimento do dia seguinte: “eu desci até o chão!”

Admito já ter passado por isso. Não uma, mas várias vezes. É que o axé e o funk nos envolvem, é verdade. E lá se vai o limite do que eu devo (posso) ou não fazer. A música, em si, não é boa. Uma injustiça com o hip-hop norte-americano, que não está em sua melhor fase (que o digam os letristas do consagrado Black Eyed Peas), e ditam os nossos mais sexyes movimentos corporais com versos do tipo: “It looks like we having sex but we just dancing”, algo como “parece que estamos tendo relações sexuais, mas nós só estamos dançando”, enfim. Acho mesmo que o funk brasileiro acaba por não merecer a alcunha de “maior merda de letra dos últimos tempos”. A verdade é que devemos mesmo saber inglês. Mas o fato é que, conscientes ou não (espero mesmo que “não”), nos sentimos livres e poderosos quando dançamos certas músicas. Seria muito bem-vindo um funk, sem letra, por exemplo. As batidas (aquelas responsáveis pelo desenvolto movimento dos quadris) seriam recebidas de bom grado, se ao mesmo tempo não tivéssemos o desprazer de sermos chamadas de cachorras, piriguetes, danadas. Há certos momentos na vida em que precisamos mesmo extrapolar nosso dicionário animalesco próprio. Não acredito que o melhor lugar para isso seja uma pista de dança. Gosto, danço, me acabo; admito isso com um leve rubor indicativo de vergonha. Mas há certos limites, e isso inclui não haver um arrocha no meu MP4 de todo dia. Gostaria de acreditar que toda aquela gente bonita e suada que conheci nas minhas diversas noitadas fazem o mesmo. Mas algo me diz que eles não ouvem mais que o axé da micareta, e não se preocupam em ler pouco mais que a revista semanal de fofocas. Deprimente. Eu não quero que alguém pense que isso é uma generalização. Bem, é. Mas, assim como eu, espero que muitos também se sintam uma feliz exceção. Dance a sexta, a madrugada de sábado e se acabem com altas requebradas sozinhos em casa, enquanto o funk pulsa nas caixas do micro-sistem ou do PC. Mas não se esqueça de dar permissão à boa MPB, à antiga Bossa Nova, aos indefectíveis Sambas (de ontem e de hoje) e aos atuais independentes do rock e suas mais diversas misturas. Isso dá papo aos encontros românticos e às rodas de friends. Acredite, vale à pena! Porque, sinceramente, eu ainda não consegui imaginar o que róla de falar depois de um “Créu, créu, créu”. A não ser, é claro, a constante mais-que-perfeita: “Foi bom pra você?”.

4 comentários:

  1. Muito bom, hein?
    Também gosto de umas requebradas esporádicas, mas não saio divulgando isso justamente pelo teor das músicas requebrativas... rs
    Aconselho Elis Regina pros mais interessados em música boa. Elis a qualquer momento... orgasmos auditivos múltiplos e consecutivos!

    =P

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  2. Ótima colocação de palavras em forma de texto.

    Parabéns mocinha!

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  3. abaixo ao meio bossa nova e rock'n'roll... agora vamos de sexo orégano e pancadão!

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  4. Ótimo texto! :)

    Freu explica a mulher melancia.. rs' pois bem

    além da pobreza literária e falta de criatividade tanto das letras vulgares e melodias enjoativamente repetitivas, o que deve frustrar parte dos caros leitores -pelo menos no meu caso- deve ser de alguma forma o utilitarismo exarcebado da dicotomia 'sexualismo-capitalista' que acaba por materializar as pessoas desumanizando o ambiente.

    eu também já fui num funk e minha principal reclamação é que nunca conseguí citar uma poesia lá.. enfim, acho que a melhor festa é aquela em que nenhum estilo seja descartado.

    Ótimo texto! ;)

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