terça-feira, 1 de julho de 2008

ticidade

Cheguei em casa cheia de vontades! “Tá doida menina moça? Pegô o teste agurinha e já tá querenu desejo?”. D’Jana me olhava com cara de riso. E tinha razão. Uma felicidade sem igual me tomou conta quando vi o POSITIVO no papel. P-O-S-I-T-I-V-O. Já queria ter oito, nove meses! Não conseguia parar de olhar a barriga um só minuto. “Se tu fica olhanu ela num cresce, viu?”. Vi D’Jana! Mas não me importo. Não me importo que me digam para não correr, pular, andar de bicicleta, comer manga verde! A felicidade é grande demais para achar que alguma coisa pode dar errado. “E o pai fia? Já sabeu?”. E ‘sabeu’ D’Jana? E quer saber? Nem tento. Nem falo nada. Diria, há dois ou três meses. Agora? “Crio sozinha D’Jana!”. E é isso. A felicidade é grande demais para achar que alguma coisa pode dar errado.
Eu estava viajando no tempo. Parei num bordel de beira de estrada e transei com a primeira puta loira que passou na minha frente. E ela me disse asneiras a noite inteira. “Como as putas são burras!”, foi o que pensei enquanto ela dormia de pernas abertas ao meu lado. “E o que sou eu, se não também burro? Por que eu tinha que parar aqui?”. Duas da madrugada. Peguei minha jaqueta, joguei uns trocados no chão do quarto e saí. O frio da estrada fez com que os vidros do carro ficassem embaçados. Entrei novamente no quarto. “Porra de porta barulhenta!”. Desse vez não teve jeito, a mulher acordou. “Tá inu embora?”. E aquela visão perturbadora me enojou. Fétida, de poucas roupas, cabelos embaralhados, a pintura dos olhos mais parecia um hematoma antigo. “O dinheiro tá no chão.”. Fui pensando nas tantas belezas que já me pertenceram. “O mundo dá voltas. E agora você transa com uma qualquer. Seu podre!”. É cada uma que a gente faz e fala quando está sozinho.

6 comentários:

  1. Complexidade: várias formas de se enxergar uma mesma coisa.
    Daí, tudo torna-se relativo D+ ao se estipular um significado (É claro que tem pessoas que encontram significados absurdos ¬¬").
    Mas o que pesa de fato em uma crônica como essa, são as lições que conseguimos captar entre as palavras e expressões utilizadas pela autora. É a emoção que a autora nos passa (e consegue fazer isso muito bem), que nos faz adentrar na história e navegar na mente dos personagens.

    Fantástica a postagem,
    Parabéns!

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  2. Nossa! Dá orgulho... Nem sei ao certo por que, mas dá.
    Que bom, né?

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