segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Escrevi um romance policial


A violência não mede mais vítima, motivo ou lugar. Não que esses fatores antes fossem levados em conta, mas chegamos a um ponto crítico: as pessoas praticam e assistem à atos desumanos (ou subumanos) com uma naturalidade impressionante. Na tarde de ontem, por volta das 15h, duas pessoas foram assassinadas no parque Municipal Baieté, zona sul de Salvador (BA).
José Alves Carvalho (32) era feirante no bairro Pencas há 17 anos, conhecido e admirado pela maioria das pessoas que freqüentam a região nos domingos movimentados pela feira. “Ele era extremamente calmo, engraçado. Era um palhaço. Ninguém nunca imaginou que ele seria capaz de fazer isso”, disse a cabeleireira Sabrina Tamanduá (32), amiga das vítimas. Tamanduá testemunhou toda a história, e afirmou ter ficado horrorizada com o que viu: “Foi uma cena que eu nunca vou esquecer, mesmo porque, os três eram meus amigos.” Carvalho namorou a estudante Juliana Castro Anísia (26) durante 7 anos. O casal havia se desentendido há cerca de 2 meses, durante uma festa no Cantil Juana, zona norte da cidade. “Os dois já não estavam se dando muito bem há algum tempo. A Juliana tinha me falado que queria terminar, mas nunca me disse que estava gostando de outra pessoa, por isso eu não acho que era traição”, explicou Sabrina. Depois do trabalho, José foi ao Baieté, como sempre fazia aos domingos. “Quando ele chegou e viu a Juliana de abraços com o Jota, ele ficou fora de si. Jota estava entregando um sorvete para a Jú e, se não me engano, uma rosa também. José ficou enfurecido. Todo mundo viu que ele até tentou se segurar, mas o cara [Jota] ficava pirraçando. Foi tudo muito rápido e confuso. A única coisa que eu vi foi José avançando nele com uma faca muito grande na mão. Depois, só conseguimos ver sangue, mas ainda não dava pra saber de quem”, relembrou a cabeleireira.
Jota era o pedreiro João Armando da Silva (29), primo de José. Os dois tinham certa rivalidade, desde que José começou namorar Juliana, em março de 2000. “Jota era apaixonado pela namorada do primo. Isso todo mundo sabia. E eles já haviam terminado há 2 meses. Não era traição. Foi ciúmes mesmo, isso não teve nada a ver com orgulho ferido. Isso não existe!”, disse Sabrina, indignada com a atitude do feirante.
Por ciúmes, orgulho ferido, ou o quer que seja, José Alves assassinou o primo, João Armando, e vice-versa. Segundo as testemunhas, o feirante correu enfurecido em direção a Jota, e só quando ele chegou bem perto, as pessoas puderam ver que ele estava armado com um facão. “Não deu tempo de fazer nada. Quando a gente viu, um já tinha matado o outro. Nunca vi uma coisa tão rápida,” contou o feirante Pedro Alves Rodrigues (31), amigo de José há mais de 13 anos.
José matou o primo com três facadas, mas, ao mesmo tempo, levou uma única facada no peito, que o levaria à morte poucos minutos depois. “Quem podia imaginar que Jota estava armado? Aliás, ninguém nem viu que José estava! Foi uma coisa impressionante. Não sei se mais impressionante, ou mais horripilante. Primo matando primo por causa de mulher!”, disse Pedro.
Juliana ficou em estado de choque, e está internada no Hospital Psiquiátrico Aroldo Costa. A estudante não ficou ferida, mas não consegue conversar com ninguém desde a tarde de ontem. Os corpos de José Aves e João Armando serão sepultados hoje, às 17h, no cemitério da Pietra Sul. Fica a indignação e de quem conhecia os jovens, levados, pelas circunstâncias, a cometer um assassinato. Os dois eram pessoas simples, de classe baixa, analfabetos. Talvez, no final das contas, a culpa não tenha sido apenas deles. Tenha sido de todos nós.
“As pessoas por aqui são assim, sabe? Qualquer coisa é motivo de morte. Também, eu não julgo não. É gente sem instrução, como eu mesma, que passa fome quase todo o dia do ano.” [Sabrina Tamanduá]

2 comentários:

  1. Well morango... n�o sei da onde voc� tira tanta inspira�o, por acaso al�m daquele seu outro v�cio voc� anda tomando red bull?rs
    Parab�ns viu, muito legal a mat�ria.

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